Enquanto não temos previsão de vida normal – em segurança e não em negação – quis compartilhar aqui as minhas viagens, assim, também mato um pouco da saudade de colocar o pé e o coração e tudo na estrada, de novo. São observações úteis pra quem viaja na aventura e com baixo orçamento, no espírito do mochilão.
Em maio de 2019, saí de Porto Alegre e peguei o ônibus pra Campo Grande, foi por:
a) tenho uma amiga que mora lá;
b) é uma boa rota para viagens, porque é caminho pra Corumbá, lá no pantanal, que eu também, não conhecia;
c) tinha feito o ID Jovem e paguei meia passagem e para mochileiros, isso é muito bom, na época, foram 120, 150 reais.
Só que são vinte e várias horas de viagem, é bem cansativo porque o clima tropical quase nunca baixa de 30° e tem sol e, às vezes, a gente não consegue se concentrar pra ler ou assistir alguma coisa – eu levo meu notebook para onde eu vou, seguro ou não, levo filmes e séries lá, sou uma solitária que gosta de companhia. Cheguei em CG e ainda fiz a turista porque noites mal dormidas deixam a gente besta mesmo e eu tinha uma mochila de 15 quilos, coisa impraticável de primeira viagem mesmo – peguei um Uber, sem pedir no App, e acabei pagando R$ 50,00 por uma viagem de R$ 20,00. Não faça o turista trouxa ou pegue um táxi de uma vez.
De Campo Grande peguei uma carona no grupo de caronas do Facebook - um grupo CG – Corumbá – viajei com outras quatro pessoas no carro e paguei uns 70 reais. De ônibus era em torno de 100, 120. Lá fiquei na casa de outra amiga e tive ajuda, também, do pai dela que me levaram até a Bolívia ali do lado pra ver o horário do trem e já passar na polícia, ali da fronteira e pegar o visto de saída do Brasil e entrada lá, o trem era terça-feira e o bilhete muito barato, 70 bolivianos, uns 35 reais. E foi assim que fui no ‘‘Trem da Morte’’ - que tem esse apelido, dizem, por causa do transporte de mortos na gripe espanhola - eu sei, muito ônibus atual poderia levar o nome, mas enfim, fui sozinha no trem por grande parte da viagem e a paisagem era bem agrária até Santa Cruz de La Sierra de onde poderia seguir pra La Paz, mas como o plano era o Salar de Uyuni, peguei um busão até Sucre, onde faria mais um translado até o destino – ah, aqui fiz a irresponsável, me iludi com o calor do dia, deixei os casacos na mochila, lá no maleiro do ônibus, que fica embaixo e quase encaranguei – fui salva por um boliviano simpático que me emprestou um casaco e me salvou da hipotermia.
E ir ao Salar de Uyuni antes de descer pro Chile. Tirei dezenas de fotos das montanhas, uma, inclusive, que eu nunca vou esquecer, de um senhor fazendo o dois com as montanhas dos Andes de fundo, mas tive um problema com o cartão de memória da câmera e perdi todas elas. Mas, isso foi depois. Eu ainda desci em Sucre e fotografei os locais e comprei uns paninhos lindos do artesanato local, daquelas senhoras bolivianas e quase comprei uma saia do tipo que usavam, mas achei cara – porque ouvi o preço que tinham dado pra uma local e não quis fazer a turista, de novo. Comi um salgado, mas era apimentado, não foi um bom momento, mas, por sorte, tinha passado no mercado em Santa Cruz e comprado um pacotão de cereal, uns canudinhos recheados daqueles que vão em sorvete e que vinham numa quantidade absurda e uma pasta de dentes da Lisa Simpsons, porque Simpsons ‘‘are everywhere’’. E Dali, peguei o último ônibus antes do Salar de Uyuni, muitos quilômetros de sal, parecendo neve ou qualquer coisa mesmo. Fiz até aquelas fotos em perspectiva com os companheiros de passeio turístico – porque não tem como ver o Salar, sem isso, sem o pacote, eles já te entregam folhetos com opções assim que se desce no pequeno terminal e ocupam toda uma rua. Cheguei no fim da tarde e os passeios só saiam pela manhã. A senhora da empresa turística foi muito solícita e me indicou um hotel ali perto e com preço ok. Fazia muito frio. Foi a primeira vez que enfrentei temperaturas negativas – ser gaúcho não te prepara pra isso, essa é a verdade, -6 graus. Penso que o passeio não foi tão caro, ainda que eu não tenha feito todas as coisas que ele incluía, como andar em um vulcão – na região são muitos, ainda que nada se compare ao Chile. Vi e fotografei flamingos. E tirei uma cesta sob o vulcão e depois vimos o que parecia uma ilha de cactos gigantes, de mais de cem anos. E, no fim do dia, veio o frio de novo e eu fui dormir, que o ônibus pro Atacama era cedo no outro dia.