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Em gravações, suspeitos de roubo de gado em Garruchos negociam ameaças e como se livrar de acusações
04/08/2017 14:45
Investigação na Região das Missões revela esquema de notas fiscais frias para negociar animais roubados. Em áudios, bandidos tramam como se livrar de acusações de crimes como formação de quadrilha.
Foto: Produtor rural teve 44 cabeças de gado levadas da fazenda em Garruchos (Foto: Giovani Grizotti/RBS TV)

Gavações inéditas mostram que suspeitos de abigeato no Rio Grande do Sul agiam com violência e eram organizados no esquema, além de conhecer bem as leis. Nos áudios, os bandidos negociam ameaças e tramam como se livrar de acusações de crimes como formação de quadrilha, como mostra o RBS Notícias (confira a reportagem acima).

Uma investigação da polícia na Região das Missões revelou um esquema de notas fiscais frias para negociar animais roubados. Em Garruchos, no Noroeste do estado, ladrões usaram um caminhão para levar 44 cabeças de gado de uma fazenda.

"Soube porque fui olhar e não encontrei, tive informação que tinha um caminhão levando gado, daí fiz ocorrência", relata o produtor rural João Vieira.

Parte da carga foi recuperada pela polícia durante uma operação que prendeu 11 pessoas. Escutas telefônicas mostram que os ladrões eram violentos. Em um dos diálogos, um dos suspeitos pede que outro contrate alguém para ameaçar um dos produtores rurais.

José Ramon: O "véio" tem um medo de morrer, o dono dos "bicho". Tu não te animava de ligar de um telefone qualquer daí, pra... ameaçando ele?

Gilnei: Eu posso ver um cara pra fazer isso. Eu não tenho como, nesse aqui, mas eu arrumo um. Me manda o número por mensagem aí.

José Ramon: Tá, eu te mando o número. Pra dizer pra ele parar com a investigação, porque senão ele vai morrer antes de chegar nas estâncias dele, nas fazendas dele.

As gravações mostram também que os bandidos eram organizados. Tinham bons advogados e conheciam as leis. Eles combinavam formas de se livrar do crime de formação de quadrilha, que tem pena maior, por exemplo.

Gilson: Daí, meu advogado, eu vou lá agora falar de tarde com ele. Assim, ele me disse: "Mauro, daí o que que vocês vão entrar. Vocês têm que escapar da formação da quadrilha".

José Mauro: Sim, é lógico.

Gilson: E aí vocês vão entrar só por receptação. E receptar 100 "boi" ou uma tevê é a mesma coisa.

NOTAS FRIAS

O esquema para esquentar o gado vendido pela quadrilha usava notas fiscais cedidas por agricultores que não criavam gado. Os rebanhos existiam apenas no papel.
 
"Os participantes da quadrilha utilizavam-se de produtores que tinham guia cadastrado e não tinham gado no campo", explica a delegada Tânia Regina Bratz
 
A descoberta mostra que é fácil para os bandidos conseguir as notas. Conferir se os animais pertencem à propriedade que emitiu as guias seria uma forma de evitar o esquema. Mas isso é inviável, alega a Secretaria Estadual da Agricultura.
 
"Não temos estrutura necessária. A nossa busca é otimizar ao máximo e ferramentas tecnológicas nos dão a condição para ter o controle mais rigoroso possível", afirma o secretário Ernani Polo
 
A tática das notas frias também foi utilizada pela quadrilha presa pela polícia no mês de junho. Entre os detidos, está um ex-vereador de Progresso, no Vale do Taquari. Em uma conversa gravada, Alcir Caríssimi, o Tilão, conversa com Julcemar Paludo, que pede guias para esquentar um gado, que segundo a polícia, seria roubado.
 
Paludo: O pai aqui tá pedindo uma coisa, ele arrumou um negócio, uma carga de gado hoje à noite. Ele tá meio mal de nota, tu consegue alguma coisa ou não?
 
Tilon: Tinha que ver... Tem que dizer certo: se é boi é boi, vaca é vaca.
 
Paludo: Tá, e não tem como largar na tua casa esse gado hoje de noite, vem de longe?
 
Tilon: Tem.
 
Os dois negaram as acusações e continuam presos.
 

Fonte: G1

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