Marcelo Blume
Ensino por último (de novo)
23/09/2020 14:10
Foto: Arte | Eliara Cruz

Preparação para o retorno, plano da volta, retomada, recomeço, volta ao normal, novo normal, e outras expressões nesta linha estão presentes nas discussões, falas e textos dos últimos meses e sobre as mais diversas atividades como futebol, esportes, clubes, turismo, fronteiras, voos internacionais, casas noturnas, teatros, cinemas, shoppings, bares, restaurantes... e também sobre as escolas, novamente, por último.

É no mínimo curioso acompanhar as defesas da volta do futebol e agora da volta do público aos estádios, abertura de bares, cinemas, teatros, casas noturnas... na sequencia de comentários e opiniões temerárias a abertura das escolas. As discussões estão na imprensa, com comentaristas, entrevistas com autoridades, mas não são somente estes que priorizaram o retorno das atividades de lazer e entretenimento, deixando o ensino por último. São 7 meses de escolas fechadas e para o retorno as informações são de falta de tempo e condições para completar os planos de contingência, adaptações aos protocolos, aquisições de utensílios e equipamentos, preparação de professores, técnicos, estudantes e famílias. Em outras palavras, a mobilização social pela abertura das escolas tem sido bem aquém dos movimentos pela volta do futebol, casas noturnas e outras.

A bola rolava na TV e as unidades fabris, o comércio e a prestação de serviços, lutavam para se manter abertos, e até hoje seguem temendo cada troca de bandeira. Não parece ser o mesmo sentimento de quem atua nos negócios relacionados com 1ª divisão do futebol brasileiro, por exemplo, há tempos em atividades, com anuência e apoio da imprensa, sociedade e autoridades. Os cinemas e teatros, em tempos diferentes em cada região, retomaram o funcionamento devido ao trabalho dos grupos de apoio a cultura. Há algumas semanas as autoridades discutem com os representantes de casas noturnas os protocolos para o retorno das atividades normais, tendo iniciado pelos que oferecem apresentações de bandas incluindo um lanche. Cultos e missas tiveram retorno da presencialidade nas últimas semanas, assim como os esportes ao ar livre de praticamente todas as modalidades. O funcionamento das escolas é que vai ficando por último...

Na condição de apreciador de vinhos tintos finos (com bastante resveratrol), cervejas artesanais, chocolate ao leite e cafés especiais, tenho preferido ler as pesquisas científicas que mostram o quanto o consumo na dose certa destes produtos contribuem com a saúde. Lembro assim que pesquisas científicas, depoimentos de profissionais, argumentos para defesas dos setores, escolhas de prioridades tem numa certa variedade e não por acaso, cada um de nós escolhe aqueles números e evidências que corroboram com sua defesa e enaltecem seus argumentos. Isto posto, enfatizo que meu propósito não é discutir qual o momento de retornar cada atividade, mas compartilhar com os amigos leitores a constatação de que novamente o ensino ficou por último. E novamente pela vontade do conjunto da sociedade, não somente por responsabilidade das autoridades constituídas que respondem pelo setor. A repercussão na mídia, nos decretos e nos anúncios são boas evidências da prioridade pelo entretenimento, deixando o ensino em planos inferiores novamente.

Quando começou a ter condições de segurança para volta de atividades, esta deveria ser gradual. Quais atividades deveriam ser priorizadas em atenção, investimentos, mobilização?

Eu gostaria de viver numa sociedade que pudesse priorizar o ensino com mais frequencia. Não é racional esperar que uma sociedade que prioriza o entretenimento acima do ensino e das atividades produtivas, tanto em atenção e planejamento, quanto em investimentos e preparação, possa superar o subdesenvolvimento e a consequente dependência dos países desenvolvidos.

Um abraço e até a próxima!

Autor: Marcelo Blume

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