Marcelo Blume
Quem é o concorrente?
02/09/2020 14:41
Foto: Arte | Eliara Cruz

Em muitos segmentos, até pouco tempo a concorrência não incomodava muito, pois onde há equilíbrio na relação de oferta e demanda a sensação é de que há mercado para todos. Há porém, aqueles que há tempos perdem o sono pensando no que faz a concorrência. O mais desejável no entanto, é quando a concorrência gera um sentimento que não permite acomodação.

Com a quebra de muitos paradigmas nos negócios, vive-se um momento em que é bem mais difícil identificar claramente os concorrentes e quase impossível identificar de onde sairão os novos competidores. Até algum tempo, falava-se da concorrência como algo relativamente previsível, bastando monitorar alguns players que faziam algo parecido e então planejar e produzir vantagem sobre eles em algum atributo. Desde que eu pesquiso e escrevo, venho defendendo que a análise de concorrência não pode ser feita com base no sentimento/feeling de quem decide, pois deve ser baseada nos cálculos de quem disputa as fatias da renda do cliente alvo.

Apesar dos muitos sinais, notícias, palestras, pesquisas, cursos, textos, vídeos... muitas empresas vêm perdendo mercado, mesmo que aos poucos, percebendo algumas perdas e atribuindo-as a fatores externos como macroeconomia, política, clientes, fornecedores, sem analisar com precisão para quem estão perdendo a participação no mercado. Esta situação é mais frequente em negócios cujos gestores não se atualizam, ou não permitem que aqueles parceiros de mente mais aberta contribuam com o negócio. Este problema não se restringe a empresas pequenas, médias ou familiares, pois grandes empresas, marcas renomadas também perdem mercado ao ponto de desaparecerem, quando não conseguem identificar e acompanhar quem são todos os seus concorrentes.

Um exemplo bem conhecido é a Nokia, que vendeu a maior parte desde os primeiros modelos populares nos anos 1990, até 2007, quando havia se tornado um conglomerado gigantesco, com 65% do mercado e praticamente só considerava concorrente a Blackberry. A partir daquele ano as fabricantes de computadores Apple e Samsung, que depois foram seguidas por outras, passaram a tirar uma fatia cada vez maior deste mercado que cresceu imensamente até os dias atuais. A Nokia não as considerava concorrentes, não percebeu que iriam tomar o seu gigantesco mercado, o que ocorreu muito rapidamente. Poderíamos citar um caso mais antigo e tão conhecido quanto, que é o da Kodak, que viu evaporar o seu consolidado mercado de filmes e máquinas fotográficas, mesmo tendo a primeira patente registrada de máquina fotográfica digital, quando os fabricantes de eletrônicos lançaram suas máquinas digitais e principalmente quando surgiram os smartphones. O que a Nokia, a Kodak e muitas que perderam seus mercados têm em comum com aquelas que estão perdendo o mercado atualmente é o fato de não terem se preparado para as outras possibilidades de concorrência. Eles estão perdendo mercado para players de outros setores, ou de quem era pequeno demais para ser considerado, e não para os concorrentes que estão acostumados a acompanhar e talvez culpam pelas dificuldades do setor.

Os canais de TV aberta e por assinatura rivalizavam entre si, mas têm hoje nos canais particulares do Youtube e streamings de filmes e séries, quem lhes toma a maior parte de seus mercados. Como já se considera normal o fato dos aplicativos de mobilidade ser os principais concorrentes dos táxis e ônibus urbanos, os aplicativos de hospedagem tomar parte do mercado de hotéis e imobiliárias, outros muitos setores de atividade estão vendo boa parte de seu mercado ser tomado, por concorrentes não tradicionais e não que vinham acompanhando.

Quem é mesmo seu concorrente? É uma pergunta cada vez mais importante para os planos de se manter no mercado. Primeiro é preciso mudar significativamente o modelo mental das lideranças dos negócios, pois o conhecimento precisa ser renovado constantemente e os olhares ampliados e diversificados.

Um abraço e até a próxima!

 

Autor: Marcelo Blume

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