Agronegócio
Tecnólogo expõe opinião sobre a produção e comercialização do arroz
27/08/2020 17:04
Foto: Roger Portela de Santis

O Tecnólogo em Agropecuária: Agroindústria e Extensionista Rural, Roger Portela de Santis, publicou na fanpage do Facebook na quarta-feira, um comentário, expondo sua opinião sobre a produção e comercialização do arroz.

Confira abaixo o relato que traz sua reflexão sobre o cultivo e comércio do grão.

“As verdades que precisam ser ditas sobre o arroz e a comercialização.

Para iniciar esse relato, quero registrar que a opinião é estritamente pessoal, de vivência e conhecimento acerca do setor, não tendo nada relacionado com posição da empresa que atuo em São Borja e demais municípios da região Missioneira.

Como é de conhecimento da ampla maioria das pessoas, está acontecendo um debate, ou melhor dizendo, um massacre verbal com relação aos atuais preços do arroz e digo, massacre, por se tratar, até o momento, da ampla maioria das opiniões com “voz” serem na mesma linha que coloca o produtor como vilão, mas é necessário contextualizar para apresentar a verdadeira versão dos fatos.

E digo, haja “lombo” para nossos produtores de arroz no que tange a comercialização, após muitas safras comercializando o cereal com valor negativo em comparação com o custo de produção, literalmente, fechando no vermelho ou melhor usando um dito popular “pagando para trabalhar”, e afirmo, o trabalho “bruto”, a tal lavoura de arroz.

Já me antecipando e tentando esclarecer a dúvida para quem não é do setor e está lendo o texto neste momento, questionando, "Mas se remunera tão mal, se é um trabalho tão árduo por que então, ainda plantam arroz? Por que insistir em uma cultura que não te deixa renda", respondo enumerando em três pontos chaves: Primeiro, por se tratar de aptidão de solo e topografia da região, há terrenos que o única cultura de grãos que pode ser implantada é o arroz; Segundo, trata-se de questão vocacional ou cultural, como em outras atividades do setor primário, há um grupo de produtores que traz de várias gerações o conhecimento e “gosto” pela produção de arroz; Terceiro, o arroz é um dos cereais-base da segurança alimentar do mundo, para que a população não morra de fome é essencial que seja cultivado arroz e outros alimentos.

Mas após essa introdução “do por que ainda produzimos arroz” volto ao tema inicial, o momento, o novo patamar de comercialização do grão. Nas últimas semanas o mercado e comercialização “aqueceu” fala-se em patamares acima de R$90,00 a saca, porém, é necessário frisar que a ampla maioria de nossos produtores não comercializaram mais que 30% da sua safra em patamares acima de R$70,00, e sim, a ampla maioria da produção foi vendida bem abaixo, principalmente, motivados pelo auto grau de descapitalização sofrido no decorrer dos anos anteriores.

A falta de renda levou o setor a ficar altamente dependente de recursos de terceiros para implantar e conduzir a lavoura, contratos firmados com entes financeiros sejam eles oficiais ou privados “obrigam” o produtor a comercializar o arroz em momentos desfavoráveis.

Vale reforçar que após incontáveis safras com preços negativos (muito abaixo do custo de produção), e outros, que junto vieram grandes perdas causadas, principalmente, por enchentes e outras intempéries climáticas, nos últimos 20 anos, convivemos com esse cenário negativo, o qual ocasionou uma grande redução de área cultivada e quase 50% dos arrozeiros do Rio Grande do Sul deixaram a atividade motivados pela falta de renda do setor.

No entanto, os valores comercializados no ano de 2020 traz um alento, um possível cenário de recuperação de preços, possibilitando uma sobrevida ao setor, literalmente, “uma luz no fim do túnel” para uma atividade que caminhava a passos largos para ser reduzida a quase nada e consequentemente, poderia aí sim, se tornar um grande problema para o consumidor final, pois, seria necessário comprar arroz em mercados externos, o que com certeza tornaria o preço muito elevado. Porém, é notório um movimento de alguns setores, para novamente trazer os preços a patamares anteriores, os motivos são obscuros e a tática é velha e surrada, jogar a opinião pública contra o setor, transferindo a questão dos preços de comercialização ao consumidor final, bem como, a inflação da cesta básica é culpa do arroz, vejam como este argumento não tem validade, porque o arroz é um produto muito barato, se comparado ao rendimento que propicia.

É indispensável que seja esclarecido de forma límpida e urgente que o arroz e consequentemente, o arrozeiro, que é quem produz, não podem arcar com a alcunha de vilão da suba da cesta básica, pois, tem peso relativamente pequeno na inflação. Na verdade o que está acontecendo neste momento com o setor é uma correção de rumos, apenas um correção de preços extremamente defasados, o que para ser justo é essencial para qualquer segmento da economia, e se esta valorização não for duradoura, se não houver políticas públicas que garantam preços dignos na comercialização, afirmo sem dúvida alguma, que o setor não irá mais suportar a falta de renda, haverá uma drástica redução de área cultivada e consequente falta de arroz disponível para consumo, causando uma grave crise econômica e social. Afirmo isso, baseado nos exemplos da região de São Borja e demais municípios missioneiros que a menos de 10 anos possuíam uma área cultivada de mais de 60mil hectares e motivados pela grave crise do setor hoje chegam a pouco mais de 40 mil hectares, sem pontuar os demais prejuízos sociais e econômicos aos municípios que essa redução já causou e poderá causar ainda mais.

Ressalto que os preços alcançados ao produtor se revelam apenas como remuneradores e o mesmo já deveria ter vindo a muitas safras que antecederam esta, devido à importância indiscutível desta atividade a muitos municípios gaúchos, representados fidedignamente pelo exemplo de São Borja qual sua economia, a geração de empregos e renda estão diretamente ligados a cadeia produtiva, não que este seja o único setor importante não tenho essa intenção, mas é inegável a sua valiosa contribuição”.

Autor: Roger Portela de Santis

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