Marcelo Blume
O desafio da requalificação
27/08/2020 17:02
Foto: Arte | Eliara Cruz

As crises aceleram tendências, e este é um conceito que já repetimos aqui, fruto de pesquisas sobre os resultados das crises tanto na saúde, quanto econômicas, políticas, que ocorreram no passado e em vários lugares. A crise da pandemia, tem gerado a necessidade de reorganização em muitos setores. O emprego, o trabalho e a renda das pessoas estão entre as principais preocupações do momento, por terem sido mais fortemente afetados. Um dos maiores desafios a serem superados no que tange a trabalho e emprego é a qualificação das pessoas.

Neste momento, quem tem e quer manter um empreendimento, independentemente do porte, está concentrado em reorganizar o negócio considerando as oportunidades e as ameaças que o futuro próximo pode apresentar. Uma das questões cruciais para mudanças e melhorias em qualquer organização são as pessoas, não tanto em número, como principalmente em termos de qualificação e requalificação de quem está e deve ingressar na equipe. O SINE e demais serviços que oferecem vagas de estágios e empregos retomaram com força a oferta de vagas e há muitas vagas que ficam abertas durante um bom tempo, sem preenchimento.

Há quem diga que estamos vivendo o momento de maior mudança da história. Se é fato, não sabemos, pois só vivemos neste tempo, mas o que sentimos é que as transformações são mais rápidas do que conseguimos acompanhar. Sobre as mudanças no mundo do trabalho e emprego Maurício Benvenutti, sócio da Startse e autor de “Incansáveis” e “Audaz” diz “Os avanços tecnológicos afetam não só carreiras, negócios e governos, mas o próprio sentido da humanidade.” E pergunta: “O que acontecerá com motoristas quando os carros forem autônomos? (...) advogados (...) médicos (...) cozinheiros(...)” e com todas as profissões em que boa parte de suas atividades são repetitivas e podem ser realizadas por robôs ou softwares nos próximos anos. Benvenutti afirma também que “As necessidades da era industrial empacotaram o trabalho em empregos padronizados, previsíveis e em tempo integral, que atenderam perfeitamente as exigências da época. No entanto, apesar dos requisitos profissionais terem evoluído, muitas empresas ainda mantêm a mentalidade inflexível do passado. Em geral, definem cargos baseados em tarefas e remunerações equivalentes às horas trabalhadas nessas tarefas. Essas escolhas geram 2 efeitos colaterais. Primeiro, as atividades previsíveis estão sendo rapidamente substituídas pela tecnologia, pois sistemas de tarefa única são simples de construir. E segundo, milhões de trabalhadores passaram a ter profissões repetitivas. Atuam mais como máquinas do que como humanos. Infelizmente, essas ocupações também se tornarão obsoletas em breve.”

Muitos sinais puderam ser percebidos há um bom tempo, assim como estudos sobre tendências de trabalho e emprego, e sobre estes Benvenutti alerta ainda que “...temos no mundo massas de pessoas qualificadas para uma realidade que já acabou. Para um mundo que não existe mais. Enquanto há cerca de 12 milhões de desempregados no Brasil, sobram vagas no Sine, nos mutirões de emprego e em quase todos os setores da economia. Nos EUA, há 7 milhões de postos de trabalho que não conseguem ser preenchidos.”

Precisamos agir coletiva e colaborativamente, e em muitas frentes, com ações mais assertivas, e numa escala bem maior do que as tentativas anteriores, em favor da requalificação das pessoas para o trabalho. Muitas empresas precisando de gente qualificada em atividades que elas têm demandas a serem atendidas e resolvidas, enquanto muitas pessoas seguem sem emprego e/ou sem trabalho, estando qualificadas para atividades cuja demanda está reduzindo. É uma situação inaceitável enquanto sociedade!

A requalificação ou qualificação constante nas competências necessárias ao mundo do trabalho é uma das ações sociais mais importantes que famílias, empresas, entidades ou setor público poderão realizar. É um desafio gigante, que não pode ser deixado para os governos, independente da esfera, e que precisa de ação de cada um de nós, sendo menos espectadores e mais de protagonistas.

Um abraço e até a próxima!

 

Autor: Marcelo Blume

Mais notícias - Marcelo Blume